“O Brasil tem expertise de fazer roupa de piriguete”. A declaração do estilista Alexandre Herchcovitch ilustra bem um debate que tem ganhado força nos últimos meses, tanto na moda quanto em termos de comportamento, e que foi potencializado pela maior visibilidade e a consequente legitimação (?) piriguetismo como estética e estilo de vida. E, ao contrário de Herchcovitch, que vê esse fenômeno com maus olhos, há quem proclame: as piriguetes são as novas it girls.
Suelen, personagem interpretada por Ísis Valverde em “Avenida Brasil”, é uma das criaturas ficcionais mais comentadas deste ano. Seja por sua atitude - assume seu lado sexual, nunca fez questão de ter parceiro fixo e nem se importa com o que as pessoas pensam de escolhas - ou por seus figurinos sempre ousados, ela ajudou a popularizar um termo antes utilizado apenas por alguns grupos: “piriguete”.
Ame ou odeie, todo mundo tem uma opinião sobre as “piriguetes” e o fato é que elas têm influenciado - e muito - a moda. Um papel que há algum tempo estava quase exclusivamente reservado às it girls, também chamadas de fashionistas.
“O conceito de it girl surgiu muitas décadas atrás para se referir a mulheres que tinham o ‘it factor’. Algo de especial que fazia elas diferentes de todo mundo. Poderia ser uma atitude à frente do seu tempo, uma forma peculiar de se expressar. Há poucos anos, a expressão voltou à tona, mas com um uso um pouco diferente e algumas vezes distorcido, levando em conta apenas a forma de se vestir”, explica a blogueira Daniela Vasconcelos (www.ricotanaoderrete.com).
Para Daniela, classificar alguém de piriguete levando em conta apenas sua indumentária demonstra preconceito na forma de lidar com as escolhas da mulher. “O termo piriguete é problemático porque é usado sempre de forma pejorativa, atribuindo vulgaridade à forma sensual de se vestir. É uma atitude preconceituosa classificar as mulheres pelo comprimento da roupa que usam”, acredita.
Mas há quem não encare o piriguetismo de forma depreciativa. Para Geisy Arruda, ser piriguete é usar o corpo em benefício próprio, o que seria uma nova forma de feminismo. “Hoje a sociedade está mais liberal e as mulheres usam e abusam do corpo”, disse Geisy em entrevista à Folha de Pernambuco. Ela, que ficou nacionalmente conhecida pelo incidente em que sofreu preconceito devido ao vestido - justo e curto - que usou na faculdade, acredita em uma mudança de paradigma na moda.
“Acho que tem muito a ver com o crescimento da classe C. É um pessoal que trabalha a semana inteira, e que, quando chega no final de semana, quer arrasar, botar uma roupa colada, chamativa e ir pra balada curtir”, defende Geisy. Para ela, não cabe mais só a fontes já consolidadas - como blogs de moda - ditar o que é tendência. “Quem faz a moda é o povão, e o povão quer piriguetar”, completa.
Geisy, que comanda a grife de roupas Rosa Divino, diz que se inspira no “estilo piriguete” na hora de desenhar seus modelos. “São vestidos curtos, decotados, que valorizem as curvas da mulher”, define. Mas não seria a roupa, e sim a forma de usá-la, que definiria a estética piriguete. É o que acredita a assessora de imprensa Juliana Stadi. Ela acha que muitas mulheres estão mais preocupadas em chamar a atenção do que em estar bonitas, e por isso exageram na produção.
“Gosto de saias curtas, vestidos mais justos e decote, mas tudo junto é um erro, é legal contrapor. A mulher pode atrair olhares e ser sensual sem revelar todo o corpo”, acredita. Apesar de não concordar com o “estilo piriguete”, ela acredita que o conceito antigo de it girl está ultrapassado. “Acho que as its, no começo, se tornaram referência de estilo e comportamento. No entanto, esse estilo acabou se tornando algo tão copiado que as pessoas perderam um pouco sua identidade e seu estilo próprio e tornaram-se todas iguais”, pontua.
Apesar de não haver consenso no assunto, em um ponto todas concordam: estilo é uma questão de atitude. “Estilo é uma mistura de fatores, como personalidade, relação com o contexto em quese vive e suas referências visuais, culturais e tantas outras. Todo mundo tem um estilo e carrega um pouco do que é nas roupas que usa”, declara Daniela.
Surgimento do termo piriguerte(curiosidade)